segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A extinção do silêncio

 Gordom Hempton é autor de um livro interessantíssimo chamado "One Square Inch of Silence: One Man's Search for Natural Silence in a Noisy World ". 
    Hempton é um áudio-ecologista que percorre o planeta em busca de lugares onde não haja nenhum tipo de ruído além dos sons da natureza, onde exista a "completa ausência de vibrações mecânicas audíveis".


Gordon Hempton


    Essa pesquisa vem sendo feita por ele há vários anos, e o que mais me interessou foi a conclusão que os espaços onde os ruídos são nulos são extremamente insignificantes comparado à quilômetros e quilômetros de ruidos, que acaba nos afetando de uma maneira ou outra, pois acredito que precisamos de silêncio.
    Me remeteu automaticamente ao mesmo conceito que Vilém Flusser emprega em relação à informação, que é composta de redundância, informação e ruído. Ruído significa qualquer coisa que interfira na mensagem que chega ao receptor, e o "atrapalha" de certa forma na interpretação desta; porém toda mensagem possui ruído, assim como o mundo todo que vivemos hoje é repleto de ruídos por todos os lados, onde chega a ser quase impossível captar o mais puro dos sons: o silêncio absoluto.
    Contudo, numa perspectiva boa disso tudo, podemos então utilizar desse ruído para criarmos, fazendo dele a brecha no sistema de informação e instruir as pessoas para que possamos viver em um mundo melhor.
Como por exemplo nessa peça publicitária interessante do governo de Santa Catarina sobre os trotes feitos para o SAMU.
  
    O ruído da mensagem cria sua autenticidade e acaba mobilizando as pessoas, mostrando a elas que um simples ruído (que seria o que atrapalha o funcionamento do sistema de informaçao do SAMU, causada pelas pessoas que passam trote) pode levar, nesse caso, à morte daqueles que realmente precisam do socorro. E esse é um dos casos onde o que falta é o que de mais simples pode (ou pelo menos deveria) existir, o silêncio.
    Em 2008, na exposição dos 50 anos da Bossa Nova no Brasil, havia um espaço chamado câmara anecóica onde os visitantes experimentavam o silêncio absoluto, que acredito que o objetivo era passar mais ou menos essa ideia da ausência de ruídos para um mundo melhor.
 Exposição "Bossa na Oca", de 2008.

sábado, 23 de outubro de 2010

Exposição de moradores de rua na Daslu. Sim, é verdade.

Um espaçoo na rua Oscar Freire é inaugurado para expor a contradição social: Uma exposição de fotos feitas por 10 moradores de rua ficarão expostas até o dia 23 de outubro na loja Op Art, e depois irá para Villa Daslu. Entrada franca .
                                                         Sem título. Por Edson Fragoaz.

O mais interessante de tudo é que os participantes do projeto ganharam uma bolsa de MEIO SALÁRIO MÍNIMO, o que não compra um pé de chinelo na Oscar Freire, muito menos na Daslu. O que me leva a crer que os mais ricos precisam muito mais de educação social do que os mais pobres.
Para muitos essa atitude de Marcos Amaro, que coordena o projeto, é uma atitude digna de aplausos, porém eu discordo completamente. Ele é milionário, e todo esse projeto que soa como causa social, acaba sendo revertido em mais capital para ninguém menos que ele. As fotos tiradas pelos moradores de rua serão leiloadas, e meio salário mínimo para cada um dos 10 "fotógrafos"? Parece até piada, ja que tenho certeza que 280 reais para ele é dinheiro para ser gasto em uma noite de balada.
O mundo é injusto, eu entendo que a intenção seja das melhores, mas ficaria melhor ainda se ele estivesse disposto a realmente ajudar. Realmente dedicar boa parte de seu dinheiro nisso, leiloar as fotos e com aquele dinheiro tentar mudar alguma coisa. Incentivar isso, empregar os "fotógrafos", ver o que eles são capazes de fazer, ja que ninguém mais que eles mesmo para retratar a realidade em que vivem. Nós não sentimos na pele como é ser um morador de rua, portanto não sabemos quais são as prioridades.
Estou para ver ainda um projeto social de causa realmente social.
Não quero soar radical, apenas não consigo acreditar  no bom samaritanismo de ninguém hoje em dia.
Veja todas as fotos , são maravilhosas. Trazem muito mais emoção do que qualquer uma que vemos circulando por aí.